quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Rivotril IV - Os Anjos da Minha Vida

                    








                                 "memórias não são só memórias, são fantasmas que me sopram aos ouvidos coisas que eu nem quero saber"  Pitty



... nem gosto desta musica, mas ela diz o que acontece em minha mente, lembranças surgem do nada...algumas são boas...

Eu estava fazendo uma pós graduação na mesma faculdade que minha irmã fazia sua graduação. Ela me acompanhava todos os dias até a porta da minha sala de aula que ficava no 6º andar do prédio do outro lado da rua de onde ela estudava. Subíamos pela enorme rampa de acesso, pois em hipótese alguma eu entrava num elevador.
E era assim todas as terças e quintas íamos conversando e rindo como duas amigas universitárias. Estar ao lado dela era o melhor momento do meu dia. Mas aconteceu que uma vez estávamos um tanto atrasadas e ela tinha prova na primeira aula. No pé da rampa se virou para mim e gentilmente falou  "tenho prova agora", sorri e disse "vai lá, eu vou sozinha", "tem certeza", "sim, eu estou bem, vai logo". Me abraçou e saiu rápido.  Olhei pra a rampa e pensei, eu vou... e fui... comecei a andar firme, como se aquilo realmente fosse algo natural, mas aos poucos meu coração começou a acelerar, comecei a tremer e tudo foi se transformando, a rampa crescia a minha frente, o chão ondulava, as paredes distantes vibravam, o ar não entrava em meu peito, tive vontade de correr e gritar  e pensava segue Priscila você consegue, e fui subindo, subindo, cada vez mais rápido, mas a rampa não acabava, de repente não sabia mais pra onde ir, para que lado seguir, não sabia se subia ou descia, nem em que andar eu ia, comecei a olhar para os lados procurando alguém ou alguma coisa que pudesse me ajudar. E como num sonho eu estava num corredor cheio de gente, rindo, falando alto e tudo aquilo rodava em minha mente, como se eu estive num furacão de vozes e imagens ininteligíveis. Foi quando avistei o bedel, fui até ele e falei, "por favor você pode me ajudar, eu não sei onde é minha sala", "qual o seu curso", "Não sei", " o seu nome", "Desculpe...Não sei...". Lembro da expressão dele, suspirou fundo, deu pra ouvir seus pensamentos "que saco!". Neste momento um outro que eu não havia visto até então, falou "Eu sei de onde ela é,  é lá de cima da Pós", e me pegou pelo braço e me levou em direção ao elevador, parei e falei "Podemos ir pela rampa", ele respondeu "Claro, como quiser". Me senti segura, com muita vergonha, mas segura. Por todo percurso segurei seu braço, caminhamos em total silêncio, em alguns momentos eu não conseguia controlar os suspiros de alivio, após um destes me perguntou "está bem, quer ir até a enfermaria?", "Não, agora estou bem" e continuamos em silêncio, penso hoje no que se passava na mente dele. Parecia que nunca tinha visto aquele lugar, ao chegarmos à porta de uma sala fez um sinal para alguém lá dentro e um rapaz veio, quando o vi tudo voltou a minha mente, era o Daniel meu colega de classe, "ela estava perdida no primeiro andar", se cumprimentaram, Daniel agradeceu me olhou e eu o abracei, o abraço mais sincero e feliz que alguém pode dar, estava muito feliz em vê-lo. Os outros vieram também, Paula, Anderson e Erlon, não me perguntaram nada, mas os olhares carinhosos e a atenção de todos falaram por si. Anjos maravilhosos que me ajudaram por um ano é meio e que depois nunca mais vi.

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