quinta-feira, 21 de abril de 2011

Oba, Todo Mundo Nú!

"Priscila, retirei este livro da mesa de leitura", com o livro encostado em seu peito como se quisesse esconder a capa, a estagiaria se aproximou de mim com o olhar sério. Perguntei: " O que tem o livro?" Abaixou se lentamente desprendo o livro do peito com todo cuidado, como se fosse me mostrar a mais horrível das imagens, causando um suspense e uma certa ansiedade em mim. Era um livro sobre esculturas e na capa em destaque havia uma foto da escultura de Davi de Michelangelo, me contive para não rir, pois percebi que sua expressão não era de brincadeira " Mas por que... qual é o problema?" como se eu já não imaginasse a resposta, "Olha esta foto! As crianças não podem ficar vendo isto, assim...esse homem com tudo assim... de fora!" " É só uma estátua, se você a ver com naturalidade as crianças também a verão assim, se você der importância, todos agirão da mesma maneira", "Tem certeza que as crianças podem ver isto!?Não consigo imaginar meus filhos vendo estas coisas na escola!". Ela voltou um tanto indignada e devolveu o livro na mesa da leitura com a capa voltada para baixo.
Parei de fazer meus registros por alguns instantes e fiquei pensando quando que o ser humano passou a ignorar seu corpo? Quando negou-se Roma negou-se também a si mesmo, dois  milênios de corpos e mentes dicotomizados.
Lembrei de quando era criança brincando nas tardes quentes de verão com bacias d'agua no quintal, correndo sem roupa. Nos banhos coletivos onde minha mãe ou minhas tias colocavam todas as crianças no banheiro, tomávamos banho em série, meninos e meninas sem distinção sendo esfregados e esfregando-se numa mistura de castigo e brincadeira, a bronca por estarmos tão sujos também era um carinho, um momento de atenção. Não me lembro quando os banhos coletivos acabaram, mas me lembro da vergonha de mostrar o corpo  na adolescência, a vergonha de ser extremamente magra, quando todas as meninas já tinham suas formas arredondadas. Como é difícil encarar nosso corpo e o corpo alheio quando carregamos a herança social padronizada.
Quando perde-se a razão ou num ato de protesto é comum sair nú pelas ruas, mas nunca em sã consciência e com tranquilidade mostramos nosso corpo. No entanto quando amamos, nos entregamos a nudez sem pudor, ou será que fazemos isto por estarmos insanos de amor? Que bom seria se todos nós nos amassemos... loucamente!

domingo, 17 de abril de 2011

Domingo de Ramos

Não sou católica, mas sempre morei no caminho entre duas igrejas católicas e desde de pequena gostava de admirar a procissão de Domingo de Ramos, sabia apenas que era algo que minha família não fazia parte, depois estudando o Bíblia entendi o que aquelas pessoas estavam representando e passei a gostar ainda mais desde dia. Numa  manhã ensolarada de domingo indo para casa do meu pai empurrando o carrinho com meus dois filhos mais velhos ainda bebês, perdida em meus pensamentos na busca de uma solução para a vida vazia em que vivia naquela época, me deparei com a procissão e decidi acompanha-la. Em meio aquela multidão cantando e rezando com seus ramos em punho fiquei pensando em Jesus Cristo sendo saudado em sua chegada a Jerusalém, na mensagem de amor verdadeiro, de respeito ao próximo e a tudo que Deus criou, a crença na Graça Divina e a Fé que nos presenteou com sua morte e ressurreição.  Este pensamento encheu meu coração de paz e esperança, cheguei na casa do meu pai mais feliz, passei um dia agradável junto dele, foi o nosso último Domingo de Ramos e nossa última Páscoa.




sábado, 9 de abril de 2011

Existência


"existimos, sem nos ser, para sermos o que lhes convém a eles" (Darcy Ribeiro)


Embora Darcy Ribeiro esteja se referindo ao povo brasileiro, hoje esta frase é muito pertinente a minha vida, as pessoas vivem de convenções, padrões de comportamento que todos devem se adequar. 
Uma colega me perguntou se tenho coragem de me "descasar" pela segunda vez, essa pergunta foi tão intrigante e seu complemento mais ainda, " as vezes precisamos nos submeter a certas coisas pelo casamento". Mas me pergunto, o que é um casamento? 
Quando escuto mulheres conversando sobre relacionamento, sexo e amor, fico calada pois não consigo perceber um mínimo de congruência entre o que ouço e o que penso.  Amar o outro é também exigir que ele te respeite, porque para amar é necessário primeiro amar a si mesmo e quem se ama se respeita e exige respeito. Sexo não é banal, nem tão pouco excepcional, apenas normal, simples, inerente a todo ser sexuado. Quanto a relacionamento acredito que nascemos para sermos felizes se não há felicidades temos que busca-la.
Não há como ser feliz, anulando a personalidade, desta forma anula-se também a existência.Pois eu existo a partir do momento que eu me coloco como individuo pensante, criativo, dinâmico. 
Será que nós mulheres pensamos que conquistamos a liberdade, mas ainda usamos cintos de castidade sociais, será que a liberdade que julgamos ter, são prisões invisíveis que validam as afirmativas: mulher precisa de marido, homem pode mulher não, mulheres só progridem quando usam a sedução?
Quanto mais penso, mais perguntas encontro.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Laurel a Emerson Matsunaga






Queria ser poeta e escrever com as mais esplendidas palavras os meus sentimentos, mas como em mim a poesia é medíocre me aposso das palavras de tantos que como eu sofrem ou sofreram a dor da despedida.



No seu corpo é que eu encontro
Depois do amor, o descanso
E essa paz infinita
No seu corpo, minhas mãos

Se deslizam e se firmam
Numa curva mais bonita
No seu corpo o meu momento
                                                            É mais perfeito
E eu sinto no seu peito
O meu coração bater
E no meio desse abraço
É que eu me amasso
E me entrego pra você

E continua a viagem
No meio dessa paisagem
Onde tudo me fascina
E me deixo ser levado
Por um caminho encantado

Que a natureza me ensina
E embora eu já conheça bem
Os seus caminhos
Me envolvo e sou tragado

Pelos seus carinhos
E só me encontro se me perco
No seu corpo
E embora eu já conheça bem
Os seus caminhos

Me envolvo e sou tragado
Pelos seus carinhos
E só me encontro se me perco
No seu corpo
                                                        (Roberto Carlos)

Como foi delicioso acordar todos os dias e sentir seu cheiro, te abraçar e ter a certeza que seja como fosse o dia ao anoitecer teria o prazer de me deitar com você e dormir em seu ombro.


Minhálma, de sonhar-te, anda perdida 
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és se quer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..."
(Florbela Espanca)



Cantar no carro varias vezes a mesma música num dueto lindo, desafinado e perfeito; cozinhar e inventar receitas, assistir filmes abraçados comendo pipoca, dormir a tarde, andar no parque ou fazer compras de mãos dadas, passar horas conversando no quintal, dirigir por uma hora até a praia só para ver o mar, momentos inesquecíveis, jóias preciosas em minha memória, que carregarei por toda eternidade.

Quando a luz dos olhos meus 
E a luz dos olhos teus 
Resolvem se encontrar

Ai, que bom que isso é meu Deus 
Que frio que me dá o encontro desse olhar 

Mas se a luz dos olhos teus 
Resiste aos olhos meus 
Só pra me provocar 

Meu amor juro por Deus 
Me sinto incendiar
Meu amor juro por Deus 
Que a luz dos olhos meus 
Já não pode esperar 


Quero a luz dos olhos meus 
Na luz dos olhos teus 
Sem mais la ra ra ra...

Pela luz dos olhos teus 
Eu acho meu amor que só se pode achar 
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
                                                                                                     (Tom Jobin)

Seu sorriso que continua o mesmo desde de menino! Me lembro bem do prazer que tinha em ficar te olhando do outro lado da sala de aula, sua vivacidade de menino levado me encantava. A mesma sala dois mundos tão distantes, quem imaginaria que vinte anos depois dividiríamos nossos dias.
Você foi...
O maior dos meus casos
O que eu nunca esqueci
Você foi...
Dos amores que eu tive
O mais complicado
E o mais simples pra mim
Você foi...
O maior dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade
Faz lembrar
De tudo outra vez.
Você foi...
A mentira sincera
Brincadeira mais séria
Que me aconteceu
Você foi...
O caso mais antigo
E o amor mais amigo
Que me apareceu
Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez...
Me esqueci!
De tentar te esquecer
Resolvi!
Te querer, por querer
Decidi te lembrar
Quantas vezes
Eu tenha vontade
Sem nada perder...
Ah!
Você foi!
Toda a felicidade
Você foi a maldade
Que só me fez bem
Você foi!
O melhor dos meus planos
E o maior dos enganos
Que eu pude fazer...
Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez....
(Isolda)


Ainda não acredito que foi embora, que o sonho acabou. A porta que tantas vezes se abriu para que te recebesse com abraços e beijos agora e cenário da lembrança de sua partida.
Espero que um dia me aceite e entenda

Et vull
Ich liebe dich
Je t'aime
أحبك
Te quiero
Σ 'αγαπώ
Ti amo
I love you
אני אוהב אותך
Aku mencintaimu
Te amo







sábado, 2 de abril de 2011

Franciscos

O primeiro era grande, forte e rude em sua aparência, porém o mais gentil dos homens. Com ele era possível discutir sobre os astros, sobre política, sobre filosofia, música, era possível dançar, olhar o por do sol ou simplesmente fazer nada. Gosto de lembrar de sua risada contida, seu jeito engraçado de contar piadas sem graça, seu descontrole diante de um doce, seu senso de justiça, honestidade e respeito ao próximo. Seu entusiasmo de criança por coisas simples contaminaram minha alma e me transformaram numa pessoa melhor. Com ele aprendi a ter calma, a andar sem pressa, observar as flores, sentir o cheiro da chuva, a beijar lentamente, sentir a pele do outro, amar e saborear o amor com naturalidade como o acordar e o dormir. As horas eram minutos ao seu lado, sua partida foi dolorida, deixou na memória as alegrias das tardes de domingo.

O segundo é personae non gratae, mas tenho que admitir que ele me deixou uma das minhas maiores alegrias, meu anjo Miguel.

O terceiro não tenho muito o que dizer, nós mau nos conhecemos, ele nem suspeita que sua cantada sem compromisso me fez perceber o que desejo para mim. Num momento de incerteza um convite não aceito me trouxe de volta a pessoa que sou.

Três homens
                    Três possíveis amores
                                                     Três encontros 
                                                                            Três despedidas
                                                                                                   Três Franciscos!


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