sábado, 19 de fevereiro de 2011

Rivotril



Estava vegetando na sala de espera do HSPM, ou melhor dizendo estava  apenas respirando pois os vegetais fazem fotossíntese e naqueles dias da minha vida eu desejava nem se quer mais respirar, estava lá sendo resguardada pela minha irmã e meus filhos, seres Divinos com enorme habilidade de me trazer de volta a vida, sempre me tirando da hibernação mental com algum comentário. Como já disse, eu estava lá ausente de mim, quando levei uma cotovelada, levantei a cabeça lentamente olhei para minha irmã mais lento ainda, que sorrindo me apontou com o olhar duas mulheres que conversavam sentadas a nossa frente.
Uma vestida de preto com os olhos caídos, expressar triste, angustiado olhando para a companheira como se nada enxergasse, a outra com um lenço colorido na cabeça, vestindo uma saia verde forte horrível, muitas blusas, segurando no colo um monte de sacolas amassadas, com olhar frenético típico dos freqüentadores da psiquiatria falando alto "- Rivotril é muito bom, sou muito feliz agora, pede pro seu médico, é muito bom".
Eu que tomava um comprimido do dito calmante a cada quatro horas e as vezes passava noites em claro pensei, o que tem de bom nisso? Bom é sentar no sofá assistir desenho comendo pipoca, bala de goma e sorvete. Bom é correr no parque descalço na grama. Bom é sentar na praia sentir o sol e ouvir o mar. Bom é ouvir "Pela luz dos  olhos teus" tocada pelos meus filhos. Bom é acordar de manhã abraçar quem a gente ama e dormir de novo. Bom é conseguir gargalhar. Em meio a estes pensamentos olhei para as duas mulheres... apertei o braço da minha irmã e pensei "por favor não me deixe ficar assim", me virei para a janela lá fora o dia estava claro, ensolarado uma árvore balançava com o vento, observei o movimento das folhas com seus  vários tons de verde e sem perceber hibernei novamente.



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