sexta-feira, 11 de março de 2011

A minha morte

Morri quando tinha entre 4 e 5 anos, lembro como se fosse hoje as mãos me pegando e me empurrando para dentro do guarda roupa, do cheiro da roupa guardada, a dor, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, o medo, o desespero, a voz ameaçadora, o conformismo mortífero, a roupa suja de sangue que sepultei no milharal ao lado da casa.
Na pequena cova jazia junto com a peça de roupa suja de sangue minha inocência infantil, o colorido dos domingos de sol, a alegria de correr simplesmente, o riso solto, o abraço sem compromisso, o carinho fraterno.  
Virei um fantasma num vazio corroído pelo medo, pela insegurança, depois pela raiva e rancor.
Passava horas imaginando como unir corpo e alma, como terminar o que haviam começado sem dó. Me via afogada no fundo do poço do quintal, atropelada por um carro desgovernado ou simplesmente desejava que qualquer febre me levasse para junto da minha alma de criança.
Os anos passaram tão rápido que não deu tempo da dor passar, as vezes me pego vagando sem rumo procurando a vida que se foi, então me entrego às vidas que recebi, da infância feliz que vivi nos olhos dos filhos,  me encontro e ressuscito todos os dias.




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